Frente e Verso | Exposição colectiva de livros de Artista | FBAUL
performance
O ciclo do livro
Ao
ser convidado para esta exposição fez-me refletir sobre o que é o livro? Um simples
objeto, que varia de tamanho, largura, peso e aspeto visual. O livro é melhor
ou pior segundo o seu conteúdo. O miolo do livro. Embora tenhamos que admitir
que por vezes somos seduzidos pelas suas capas, sabemos que há livros muito
bons com capas nada atraentes, neutras ou até mesmo repulsivas. Quis refletir
sobre todas estas questões.
Interessa-me
sentir uma espécie de magia em cada momento da fruição do livro. Tem de haver
magia imediata ao ser surpreendido com a sua aparição, ou seja como ele se
apresenta á nossa frente. São aqui mostrados sete livros, cada um
correspondente a um dia da semana. Os livros apresentam-se de tamanhos
diferentes e ordenados do maior ao menor, de aspeto banal, pretos com elástico a
fechá-los, usados, em suma pouco atrativos. Estas características traduzem uma
unidade entre eles. Não podem ser a partida conotados como superficiais, parecem
antes frios, distantes, não comunicativos e impessoais. Apresentam-se como
volumes geométricos com uma presença física forte e imposta, violando o espaço
físico a eles destinados, estamos perante uma natureza morta metafísica, jogando
com os limites de se poder ou não tocar. A magia tem de continuar. Ao sentirmos
nas mãos o livro, questionando-nos como o agarrar, a delicadeza com que se deve
abrir, sentir com o tato o papel, com o olfato o cheiro libertado pelas páginas
que são desfolhadas mais ou menos rápidas, tempo este orientado pelo maior ou
menor interesse na sua contemplação. Imaginamos toda uma performance,
desenrolando-se momentos intensos e mágicos. Em nós são manifestados diferentes
gestos e expressões corporais e faciais.
Percebemos
que cada livro é um livro diferente do outro. Os livros aqui mostrados revelam
de alguma forma um trabalho compulsivo, diria quase doentio/ esquizofrénico e
por si também terapêuticos, revelam cada um, uma mesma identidade. Será que
isto faz deles livros de artista? Conseguimos perceber que funcionam na sua
individualidade, foram pensados conscientemente e mostram diferentes propostas
e características. Ao usufruir da presença de cada um dos livros aparecem
diferentes surpresas com as quais podemos continuar na magia.
Para
terminar, fechar o livro e pousá-lo de novo delicadamente, colocando-o no seu
devido território marcado, voltando este à sua forma objeto original.
Libertamos também as nossas mãos daquela forma geométrica, da qual levamos
memórias do seu conteúdo. Toda esta magia, se assim queremos acreditar, vai de
alguma forma enriquecer-nos. Para quem sabe ver, a magia continuará de certeza,
porque o seu usufruidor continuará a pensar sobre o que percecionou. O movimento
poderá ser circular. Virá com certeza outro livro e outro. Este é o ciclo dos
livros e a magia que estes podem enaltecer. O llvro de artista é pensar sobre
tudo isto.
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